Quem humilha será exaltado; quem se exalta será humilhado.”
No início da entrevista, ao perguntar a Padre Adilson quando surgiu o desejo de se tornar padre, ele olhou para o alto. Passados alguns minutos e cheio de emoção, responde: “Toda vocação é, por natureza, um chamado divino que traz consigo sedução, alegrias, certezas e dúvidas”.
Quando ele fez a Primeira Eucaristia, aos oito anos de idade, em 24 de novembro de 1956, celebrada por Frei Severino, na Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, na Vila Socorro em Alagoinha-PE, já sentia, muito forte no coração, uma vontade de ser Padre, ficando a pensar o que o teria levado, realmente, a se sentir, tão fortemente, atraído pela vida sacerdotal. Ele confessa que não tem explicação, preferindo silenciar e absorver-se plenamente no mistério insondável do chamado Divino. Mas lembra, diz ele, cheio de emoção, quando recebeu a Santa Eucaristia.
Para participar dos rituais da sua Primeira Comunhão, ele, com os familiares, percorreram mais de uma légua, não havia animais suficientes para transportar todos e muitos foram a pé, chegando suados e exaustos à Igreja. Nada desanimava aquela família cristã; o importante era que mais um membro receberia “O Corpo e o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo.”
Ao todo eram 164 crianças, entre meninos e meninas, todos da região e pobres. Um fato inesquecível para Pe. Adilson foi quando ele e os amiguinhos se dirigiram ao altar para receber a Santa Eucaristia e todos começaram a cantar:
“Jesus amado, quero sentir; Jesus, não tarde, ó venha a mim”…
(No momento da entrevista, Padre Adilson tenta cantar, mas emociona-se e derrama algumas lágrimas – silêncio e emoção no ar!)
Ele lembra que, ao receber a Eucaristia, saiu aos prantos, soluçando, um sentimento estranho invadiu o seu coração, sentiu um chamado que ele não conseguia explicar. Hoje, ele diz:
“A maior aproximação com Deus, eu senti muito forte, quando recebi a Eucaristia.”
Após a Comunhão Eucarística, com Jesus no seu coração, ele volta ao seu lugar, chorando um choro de alegria, muita alegria. Para Pe. Adilson, a Eucaristia não é só o centro da sua vida, mas a paixão da sua alma sacerdotal.
Quando o garoto Adilson volta para casa com seus familiares e perguntam para ele a razão de tanto choro, ele manifesta a todos, no seu linguajar infantil, de um meio rural, do agreste, a intenção de consagrar-se a Deus quando crescesse. O garoto jamais iria imaginar que, para concretizar esse ideal, passaria com seus pais grandes humilhações.
Os dias passam, o garoto insiste na ideia de entrar no seminário. A sua professora de Catequese fala sobre o Seminário e Adilson fica fascinado. Começa a pedir aos pais para irem até o Seminário pedir uma vaga.
Em 29 de setembro de 1958, é crismado na Igreja Matriz de Alagoinha-PE, pelo Bispo Dom Adelmo Machado, tendo como padrinho Joaquim Galindo de Assis.
Certo dia, Sr. Ramiro e Adilson, vestem as melhores roupas, embora surradas, e se dirigem ao Seminário São José em Pesqueira-PE. Nesse dia, mesmo antes do amanhecer, Adilson já estava trocado de roupa, pois a ansiedade era grande. Lá chegando, o pai relatava ao atendente o porquê de estar ali, com o filho. Esse lança sobre eles um olhar de desprezo, talvez pelos trajes rotos. Depois de horas de espera, são encaminhados a uma sala bem mobiliada, onde encontraram Padre sisudo, sentado numa confortável poltrona por trás de uma mesa. Timidamente, senhor Ramiro explica o motivo da sua estada naquele local, o grande desejo do seu filho de ingressar no seminário. O Padre, após ouvir o relato, autoritariamente, manda Adilson ler um textos. A pobre criança, nervosa, atrapalha-se, e a leitura é interrompida bruscamente por ele, que o manda para sua casa. Dirigindo-se ao pai, diz que o menino era “analfabeto” para entrar no seminário. Pai e filho foram despedidos, sem contemplação.
Os dois, de mãos dadas e humilhados, deixam a sala do seminário. Ao ouvir fechar a porta, Adilson vira-se e, ao olhar, vê uma placa presa à porta com o seguinte dizer: REITOR. Naquele momento, na sua ingenuidade de menino, promete a si mesmo que um dia haveria de sentar-se naquela cadeira. Ao chegarem à casa, a mãe abraça o filho choroso e humilhado e, em tom firme e forte, promete ao pequeno uma professora particular e que, em pouco tempo, o mesmo haveria de voltar ao seminário e, assim, o fez.
Fonte: Trecho do livro “Faz-me fiel, Senhor Jesus.”