Quando falamos de Igreja, vem logo à nossa mente os templos físicos onde os cristãos se reúnem, ou seja, as igrejas com “i” pequeno. No entanto, quando falamos aqui de Igreja referimo-nos à Igreja com “I” grande, ou seja, ao “povo que Deus convoca e reúne de todos os confins da terra, para constituir a assembleia daqueles que, pela fé e pelo Baptismo, se tornam filhos de Deus, membros de Cristo e templos do Espírito Santo.” (Catecismo da Igreja Católica, 147).
A arquitetura da Igreja
No entanto, o edifício físico da igreja pode-nos ajudar a compreender melhor a realidade da Igreja. Na verdade, o apóstolo Pedro, na segunda leitura deste domingo, usa a imagem da pedra angular e das outras pedras que se utilizam na construção de um edifício para se referir ao fundamento da Igreja e do lugar dos crentes na sua construção.
Para Pedro, a pedra angular da construção é Cristo. É Cristo o fundamento da Igreja. É sobre Cristo que se deve construir a vida dos crentes. No entanto, esta pedra angular foi “rejeitada pelos homens” e é “pedra de tropeço e de escândalo”. Na verdade, Cristo foi condenado à morte e crucificado e isso não deixa de ser escandaloso para a mentalidade de todos os tempos. Efetivamente, os cristãos são convidados a aproximarem-se de Cristo crucificado e ressuscitado – pedra angular – e a entrarem na construção deste templo espiritual.
Os cristãos são uma parte integrante na Igreja. Não são um adorno ou uma pedra de tropeço. Eles são chamados a ser pedras vivas edificadas sobre o fundamento que é Cristo. A presença de todos é importante na Igreja. São os cristãos que edificam, sobre a pedra angular que é Cristo, com a sua vida uma Igreja mais bela do que qualquer templo artístico. A missão de todo o Povo de Deus, missão que recebe pelo seu baptismo, é a de oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus, ou seja, de desempenharem o seu sacerdócio comum “na celebração dos sacramentos, na oração, na ação de graças, no testemunho de uma vida Santa, pela abnegação e por uma caridade actuante” (Lumen Gentium, 10). Em suma, os fiéis devem ser testemunhas de Cristo ressuscitado no meio deste mundo sempre prontos a dar razões da sua fé e da sua esperança.
Sete construtores e servidores
“A palavra de Deus ia-se divulgando cada vez mais; o número dos discípulos aumentava consideravelmente” (At 6,7), relata a primeira leitora do livro dos Atos dos Apóstolos. Que grande vitalidade tem esta comunidade primitiva! O número dos discípulos crescia de dia para dia e havia necessidade de buscar novos construtores, servidores desta Igreja a desabrochar. No entanto, bem sabiam os Apóstolos que nesta Igreja não há agentes de um lado e destinatários do outro, todos somos agentes e todos somos destinatários, todos temos a necessidade de ser evangelizados e todos o dever de evangelizar. Assim, para não se distanciarem-se do que é próprio do seu ministério, os Apóstolos escolheram “sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria” (Act 6,3). A estes caberia coordenar o serviço da caridade, o apoio aos mais carenciados para que os Apóstolos se dedicassem à oração e ao serviço do Palavra.
No fundo, este texto sugere-nos duas atitudes para que as comunidades possam, tal como a primitiva comunidade, crescer no número dos discípulos e no ensino da Palavra de Deus. Em primeiro lugar, a Igreja deve ser uma comunidade de serviço, tanto à Palavra de Deus como aos que mais necessitam, os frágeis, pois a fé não se separa da caridade mas exige-a. Em segundo lugar, deve ser uma comunidade onde o Espírito Santo está presente, porque é o Espírito que cria, anima e dinamiza a ação dos discípulos de ontem e de hoje.
Um caminho
Jesus vive horas decisivas da sua missão. Acaba de fazer a ceia com os seus discípulos e está prestes a viver a Sua paixão. As circunstâncias são especiais e os momentos geradores de expectativas. Os discípulos sentem-se incomodados e perplexos. Não se imaginam sozinhos. Estão confusos. Não “engolem” o falhanço da aposta de terem deixado tudo e, agora, verem ruir os projetos tão intensamente alimentados. Acham estranho que Jesus lhes acene com novos horizontes. Jesus diz aos seus discípulos que vai para a casa do Pai para nos preparar um lugar. No entanto, também nós, como Tomé, podemos interrogar Jesus: “Senhor, não sabemos para onde vais: como podemos conhecer o caminho?” (Jo 14,5). E também a nós responde Jesus como respondeu a Tomé: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por Mim” (Jo 14,6).
O caminho de Jesus é claro. Nele se encontra a verdade. Por ele se alcança a vida. Com ele se vai ao Pai. Há outros caminhos que brilham em tantas luzes de sedução; mas esgotam-se depressa e, quase sempre, deixam o coração vazio e insatisfeito. Ganham em intensidade o que perdem em fugacidade. Santo Agostinho diz-nos num dos seus sermões: “Seguindo o caminho da sua humanidade, chegarás à Divindade. Ele te conduz a Ele mesmo. Não procures por onde ir fora Dele. Se Ele não tivesse querido ser caminho, sempre andaríamos extraviados. Ele se fez, pois, caminho, por onde ir. Portanto não te direi: Busca o caminho. O caminho mesmo é quem vem a ti. Levanta-te e anda! Anda com a conduta, não com os pés. Muitos andam bem com os pés e mal com a conduta. E inclusive os que andam bem, mas fora do caminho. Correm, mas não pelo caminho, e quanto mais andam, mais se extraviam, pois se afastam mais do caminho…Sem dúvida, é preferível ir pelo caminho, embora mancando, do que ir fora do caminho” (Santo Agostinho, Comentário sobre o evangelho de São João).
Uma proposta
Jesus não quer ver os discípulos com corações perturbados, amedrontados, paralisados pelo medo. Jesus define um caminho e encoraja-os. “Não se perturbe o vosso coração. Se acreditais em Deus, acreditai também em Mim” (Jo 14, 1). E porquê? Porque Jesus é “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6).
– “Eu sou o caminho”. O problema de muitas pessoas é não viverem perdidos ou equivocados, mas viverem sem um caminho, perdidos numa espécie de labirinto, num túnel sem saída, num caminho feito ao sabor dos slogans e das modas. Para quem segue o caminho de Jesus encontra, por vezes, muitos problemas e dificuldades mas está no caminho certo pois Ele é o caminho que nos leva ao Pai. Essa é a promessa de Jesus!
– “Eu sou a verdade”. Este é um convite escandaloso para os ouvidos modernos. Nem tudo se resume à razão. O desenvolvimento da ciência não contém toda a verdade. O mistério de Deus não é observável num telescópio ou num laboratório científico. Deus não se impõe. Revela-se pela sua atracção e verdade. Jesus é a verdade porque mostra o verdadeiro amor do Pai.
– “Eu sou a vida”. Jesus transforma as nossas vidas. Faz-nos viver. A minha vida ganha outra amplitude. Ganha sabor de eternidade, de vida em abundância.