NONO DIA — A GRUTA DE BELÉM
Preparação:
1° — Ato de Fé na presença de Deus, dizendo: “Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu afeto”.
2° — Ato de Humildade, por um breve ato de contrição: “Senhor, nesta hora deveria eu estar no inferno por causa dos meus pecados; de todo o coração arrependo de Vos ter ofendido, ó Bondade infinita”.
3° — Ato de Petição de luzes: “Meu Deus, pelo amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela”.
Para o ato de contrição basta dizer: “Bondade infinita, pesa-me de Vos ter ofendido”.
Depois uma Ave Maria à Santíssima Virgem, a fim de que nos obtenha esta luz; e na mesma intenção um Glória ao Pai a São José, ao Anjo Custódio e ao nosso Santo Protetor.
Meditação:
“Ela reclinou-o em uma manjedoura; porque não havia lugar para eles na estalagem” (Lc 2, 7)
Sumário. Que terão dito os anjos vendo a divina Mãe entrar na gruta de Belém, a fim de dar à luz o Filho de Deus? Os filhos dos príncipes nascem em quartos adornados de ouro; e ao Rei do céu prepara- se para nascer uma estrebaria fria, para cobri-lo uns pobres paninhos, para cama um pouco de palha e para colocar uma vil manjedoura? Oh, ingratidão dos homens! Oh, confusão para nosso orgulho que sempre ambiciona comodidades e honras!
I. Continuemos hoje a meditar na história do nascimento de Jesus Cristo. Vendo-se repulsos de toda parte, São José e a Bem-aventurada Virgem saem da cidade a fim de achar fora dela ao menos algum abrigo. Os pobres viandantes caminham na escuridão, errando e espreitando; afinal lhes ao pé dos muros de Belém uma rocha escavada em forma de gruta, que servia de estábulo para os animais. Disse então Maria: José, meu Esposo, não precisamos ir mais longe; entremos nesta gruta e deixemo-nos ficar aqui. — Mas como? Responde São José; não vês, minha Esposa, que esta gruta é tão fria e úmida que a água escorre em toda parte? Não vês que não é uma morada para homens, senão uma estribaria para animais? Como queres passar aqui a noite e dar à luz? — Contudo é verdade, tornou Maria, que este estábulo é o paço real onde quer nascer na terra o Filho eterno de Deus.
Ah! Que terão dito os anjos vendo a divina Mãe entrar naquela gruta para dar à luz! Os filhos dos príncipes nascem em quartos adornados de ouro; preparam-se-lhes berços incrustados com pedras preciosas, e mantilhas preciosas; e fazem-lhe cortejo os primeiros senhores do reino. E ao Rei do céu prepara-se uma gruta fria e sem lume para nela nascer, uns pobres paninhos para cobri-lo, um pouco de palha para leito, e uma vil manjedoura para o colocar? Ubi aula, ubi thronus? Meu Deus, assim pergunta São Bernardo, onde está a corte, onde está o trono real deste Rei do céu, porquanto não vejo
senão dois animais para lhe fazerem companhia, e uma manjedoura de irracionais, na qual deve ser posto?
Ó Gruta ditosa, que tiveste a ventura de ver o
Verbo divino nascido dentro de ti! Ó presépio ditoso, que tiveste a honra de receber em ti o Senhor do céu! Ó palha ditosa, que serviste de leito àquele cujo trono é sustentado pelos serafins! Sim, fostes ditosos, ó Gruta, ó presépio, ó palha; mais ditosos, porém, são os corações que tenra e fervorosamente amam esse amabilíssimo Senhor, e que abrasados em amor o recebem na santa Comunhão. Oh, com que alegria e satisfação vai Jesus Cristo pousar no coração que o ama!
II. Um Deus que quer começar a sua infância
num estábulo, confunde o nosso orgulho, e, segundo a reflexão de São Bernardo, já prega com exemplo o que mais tarde havia de pregar à viva voz: Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração. Eis porque ao contemplarmos o nascimento de Jesus Cristo e ao ouvirmos falar em gruta, em manjedoura, em palha, em leite, em vagidos, estas palavras deveriam ser para nós como que chamas de amor, e como que setas que nos ferissem os corações e nos fizessem amantes da santa humildade.
É verdade, ó meu Jesus, Vós, tão desprezado por nosso amor, com o vosso exemplo fizestes os desprezos excessivamente caros e amáveis aos que Vos amam. Mas como então é possível que eu, em vez de os abraçar, como Vós os abraçastes, ao receber algum desprezo da parte dos homens, me tenha mostrado tão orgulhoso, e tenha ainda chegado a ofender-Vos, ó Majestade infinita? Pecador e orgulhoso!
Ah, Senhor, já o compreendo: eu não soube aceitar com paciência as humilhações e as afrontas, porque não Vos soube amar. Se Vos tivera amor, ter- me-iam sido doces e amáveis. Mas visto que prometeis o perdão a quem se arrepende, de toda a minha alma arrependo-me de toda a minha vida desordenada, tão diferente da vossa. Quero emendar-me, e por isso Vos prometo que para o futuro aceitarei com paz todos os desprezos que me vierem, e que os sofrerei por vosso amor, ó Jesus meu, que por meu amor tendes sido tão desprezado. Compreendo que as humilhações são as minas preciosas por meio das quais quereis enriquecer as almas com tesouros eternos. Já sou digno de outras humilhações e de outros desprezo, porque desprezei a vossa graça. Mereço ser pisado aos pés do demônio. Mas os vossos merecimentos são a minha esperança. Quero mudar de vida; não quero mais causar-Vos desgosto; para o futuro não quero buscar senão a vossa vontade, e por isso Vos dou todo o meu coração. Possui-o, e possui-o para sempre, a fim de que eu seja sempre vosso e todo vosso.“E Vós, ó Pai Eterno, que cada ano nos alegais com a esperança de nossa Redenção, concedei-me que com confiança possa esperar a vinda do vosso Filho unigênito como Juiz, a quem agora recebo alegremente como Salvador ”. Fazei-o pelo amor do mesmo Jesus Cristo e de Maria Santíssima.
Conclusão:
Enfim, a conclusão da oração compõem-se de três atos:
1° De agradecimento pelas luzes recebidas, e de pedido de perdão das faltas cometidas no tempo da oração: “Senhor, eu Vos agradeço as luzes e os afetos que me destes nesta meditação e Vos peço perdão das faltas nela cometidas”.
2° De oferecimento das resoluções tomadas e de propósito de guardá-las fielmente: “Meu Deus, eu Vos ofereço as resoluções que com a vossa graça acabo de tomar, e resolvido estou a executá-las, custe o que custar”.
3° De súplica, pedindo ao Pai Eterno, pelo amor de Jesus e de Maria, a graça de executá-las fielmente: “Meu Deus, pelos merecimentos de Jesus Cristo e pela intercessão de Maria Santíssima, dai-me a força de pôr fielmente em prática as resoluções que tomei”.
Termina-se a oração recomendando a Deus a Santa Igreja, os seus Prelados, as almas do purgatório, os pecadores, e todos os nossos parentes, amigos e benfeitores, por um Pai Nosso e uma Ave Maria, que são as orações mais úteis por nos serem ensinadas por
Jesus Cristo e pela Igreja: “Senhor, eu Vos recomendo a Santa Igreja, com os seus Prelados, as almas do purgatório, a conversão dos pecadores, e todas as minhas necessidades espirituais e temporais bem como as dos meus parentes, amigos e benfeitores”.
Que assim seja, Amém.
Novena de Natal de Santo Afonso de Ligório (Baixe o PDF)